Histórico

No Brasil, a produção comercial de sementes de ostras em laboratório, teve início em 1990 com o LMM-UFSC e vem sendo incrementada a cada ano, de forma concentrada em C. gigas. A tecnologia e infra-estrutura desenvolvidas têm possibilitado também, a produção comercial da ostra nativa (de mangue possivelmente C. rhizophorae) e produções experimentais da vieira nativa Nodipecten nodosus e do mexilhão Perna perna, entre outras espécies. Até 1996/1997, dependíamos exclusivamente da maturação das matrizes em ambiente natural. Para as espécies nativas, isso não tem causado grande problema, já que elas atingem graus eficientes de maturação gonádica, em diferentes períodos do ano, em nossas condições ambientais.

Desde o início dos anos 90, o LMM, através de seu trabalho pioneiro no país, vem garantindo a sustentabilidade da atividade com produções sempre crescentes de sementes de ostras, de modo a acompanhar a demanda, também, crescente por elas.

Tecnicamente, a produção de moluscos marinhos é diretamente dependente da oferta de sementes (juvenis). Em diversos casos, como, por exemplo, o mexilhão, é possível e, mesmo, preferencial em termos econômicos, a obtenção de sementes a partir dos assentamentos naturais ou através do uso de coletores manufaturados e previamente instalados em locais adequados a captação das mesmas.

Por outro lado, o cultivo de ostras, em particular, a espécie Crassostrea gigas, no Brasil, depende da produção de sementes realizada em laboratório (“hatchery”), pois, embora haja desovas de adultos maduros em ambiente natural, não são produzidas sementes viáveis em nossa região.

Como a reprodução das ostras C.gigas não é eficiente em nosso ambiente e o período reprodutivo da espécie restringe-se à primavera, caso estejamos limitados ao uso destes animais para desova em laboratório, a produção de sementes também estaria restrita a uma certa época do ano, que, neste caso, iria do final da primavera a meados do verão, época de águas quentes, inadequadas ao crescimento da espécie e que apresentam uma alta mortalidade para a espécie.

Esta situação fez com que investíssemos no desenvolvimento de uma infra-estrutura e em tecnologias que permitissem um controle total sobre a maturação dos reprodutores em laboratório, permitindo a produção de sementes que atendesse aos produtores da melhor forma, tanto em termos de quantidades, quanto nos prazos de entrega.

Junto a isto, todo os outros setores do LMM (produção de microalgas, larvicultura e assentamento), receberam investimentos com o objetivo de aumentar a sua produtividade para que a ostreicultura no estado de Santa Catarina pudesse continuar a crescer com segurança, sem o temor de um desabastecimento de sementes, seu principal insumo. Para que se tenha uma ideia deste aumento de produtividade, o LMM passou de uma capacidade de entrega mensal de 400 mil sementes, em 1997, para mais de 40 milhões em 2010.

Este aumento de produtividade teve um efeito altamente positivo. Produzindo mais e em menos tempo, mais rapidamente atendemos aos produtores e mais tempo resta para a equipe do LMM se dedicar a investigação e desenvolvimento de técnicas de produção de espécies nativas. Com isso, já há dois anos que sementes de ostra nativa são disponibilizadas ao mercado em volume superior a demanda e muitos experimentos estão sendo realizados para que possamos iniciar a produção comercial da Vieira. O assentamento remoto de mexilhões, pelo menos em anos de baixo recrutamento natural, também já está sendo estudado e poderá trazer excelentes resultados em breve.

Essa situação, fez com que procurássemos investir no desenvolvimento de infra-estruturas e tecnologias que permitissem uma produção e distribuição de sementes programada, aos produtores, na época e na quantidade solicitada. Nesse sentido, implementamos tanto a fase de condicionamento e maturação em laboratório, quanto uma mudança na forma de distribuição das sementes, garantindo maior agilidade na produção em laboratório pela possibilidade de comercializar sementes de menor tamanho, com ampliação do crescimento e rendimento.

Hoje, mais de 90% das sementes são entregues ao setor produtivo com tamanho de 1 a 1,5 mm a um custo 50% inferior ao das sementes maiores que 3 mm. Nessas sementes ( quando aplicado o manejo adequado – e quando o ambiente apresentar condições adequadas), o rendimento é de mais de 90% até o tamanho 7 mm em 30 dias. Em épocas anteriores, com sistema tradicionais de berçários o rendimento não passava de 30% (a partir de sementes 1,5 mm) em mais de três meses de manejo.

Esses avanços permitiram a evolução de uma entrega mensal de 400 mil sementes, em 1997, para 45 milhões de sementes, 2006 e reduzir o período de entrega das mesmas de 14 para 7 meses, além de atender plenamente a futuras demandas crescentes do mercado.

O desenvolvimento dessas tecnologias tem permitido também ampliar muito o tempo de dedicação do LMM ao desenvolvimento de diversas pesquisas em condicionamento, maturação, larvicultura e assentamento de outras espécies, em particular, as nativas que trabalhamos, suportando amplo trabalho de pesquisa e desenvolvimento científico.

Assim, Semeando o mar com pesquisas e desenvolvimento tecnológico pautados pela inovação e oferta de novos produtos, o LMM tem sempre gerado novas alternativas de produção e renda para nossos produtores, na importante missão da Universidade de integrar a pesquisa científica ao setor produtivo através do desenvolvimento e repasse tecnológico.